Solidariedade e amor ao próximo
Há 125 anos a Comunidade Pella Bethânia desenvolve a missão de cuidar e promover vida com dignidade
Tudo iniciou em 1890, quando Michael Haetinger, na função de pastor itinerante, viajava pelo RS para atender as famílias imigrantes alemãs. Nessas viagens, verificou que, entre os imigrantes, havia pelo menos 60 órfãos.
Devido ao preço acessível, a Fazenda Barros da família Canabarro, à margem do Rio Taquari, foi comprada. Com recursos do pastor Wegel e financiamento do pastor Hunsche, dois sonhos se tornaram realidade em 1982. O local seria um lar para pessoas órfãs e acolheria pastores e suas mulheres ao se aposentarem.
O nome Pella foi dado em homenagem a uma comunidade na África do Sul que o pastor Wegel atendera durante dez anos. Em 26 de setembro de 1892, de fato, foi criado o Asilo Pella. E, no dia 19 de novembro de 1892, o pastor Haetinger e sua família se instalaram na casa. Por esse motivo, essa é a data oficial da fundação do Asylo Pella.
Na trajetória da instituição, consta a ampliação do espaço físico com a compra e transformação da Ex-Escola Superior de Agronomia em Asilo Bethânia. Somando os dois nomes, nos últimos anos, a instituição era denominada Associação Beneficente Pella Bethânia.
Qualidade de vida em primeiro lugar
O professor de Ciências Naturais, Santo Maboni, de 65 anos, é natural de Três de Maio. Em 2007 ele se mudou para a instituição, onde encontrou inspiração para suas canções. “Aqui encontrei uma natureza viva, um lugar onde consegui me inspirar para criar minhas músicas”, conta. Maboni já gravou um CD e também escreveu um livro com as letras compostas.
Hoje, entre as ocupações diárias, cuida de mudas de árvores frutíferas nativas, faz a separação do lixo e também promove interações musicais, como atividades terapêuticas. “Todos os domingos, junto com dois residentes, eu realizo a domingueira, e isso me deixa muito feliz. Eu gosto muito de viver aqui. Não me imagino morando em outro lugar”, salienta.
A professora aposentada Ninita Iris Fuchs, 78, é natural de Palmeira das Missões. De acordo com ela, foram vários os fatores que a trouxeram para a instituição. “O principal foi poder realizar trabalho voluntário com hortas e jardins, algo que eu não tinha muito conhecimento, mas sempre gostei”, explica.
No local, ela vislumbrou várias atividades. Mesmo com apenas 35% da visão, realiza diversos trabalhos. “Hoje eu pinto vasos e bancos, podo árvores, limpo o jardim. Faço porque gosto, ninguém me obriga”, conta.
A aposentada visitou outros lares e, de acordo com ela, a Pella é a mais bonita. “Além de ser um lugar muito lindo, proporciona um atendimento de alto padrão. Temos qualidade de vida”, finaliza. Hoje trabalha na elaboração de um relógio de chás. A horta orgânica tem 15 variedades de verduras e legumes.
A Pella Bethânia
Segundo a diretora da Pella Bethânia, a pastora Ana Paula Genehr, o público-alvo é formado por idosos e pessoas com deficiência. A instituição oferece sete casas-lares, conforme a idade e perfil de adaptação de cada interno. Para isso, é realizada uma entrevista para escolher qual o melhor local.
Podem entrar na instituição deficientes a partir dos 18 anos e idosos a partir dos 60 anos, com ou sem deficiência.
A Associação Beneficente Pella Bethânia mantém convênio com 22 prefeituras do RS e duas de Santa Catarina, além de pessoas de diversas cidades do estado. “A família contata conosco e nossa equipe multiprofissional realiza o acolhimento e entrevista para verificar se temos condições de receber essa pessoa”, esclarece.
Necessitamos de doações constantes para manter o trabalho social.”Ana Paula Genehr, diretora-geral
A equipe é composta por enfermeiras, clínico-geral, psiquiatra, fisioterapeuta, psicóloga, assistente social, nutricionista, pedagoga, educador físico e cuidadoras. No total, são 120 trabalhadores distribuídos nas áreas de Cuidado, Administrativo, Financeiro e Agropecuário.
Outro trabalho realizado é o projeto terapêutico pedagógico e a pastoral. O projeto Convivendo e Aprendendo com Alegria promove 26 oficinas, entre elas, de Dança, Teatro, Informática, Culinária e Artesanato, além do trabalho da pastoral, no qual a pessoa pode expressar sua fé conforme sua religião. “A gente também preza pela interação social, por isso, participamos de atividade e eventos fora da instituição”, reforça.
Em 2016 foi criado, pelo Cadi, de Curitiba, o planejamento estratégico. A partir dele, a instituição tem trabalhado com orientações, por meio de objetivos estratégicos. “Isso permitiu a criação de estratégias e aprimoramento do serviço, priorizando a qualidade de vida dos nossos residentes”, ressalta.
Segundo Ana Paula, muitas pessoas pensam que a instituição recebe somente recursos vindos da Alemanha. Porém, a realidade é bem diferente. “Necessitamos de doações constantes para manter o trabalho social. Recebemos apoio de projetos pontuais vinculados à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e à Federação Luterana de Diaconia (FLD), geralmente para pequenas reformas e acessibilidade nos lares, bem como para atividades da pastoral com os residentes e com trabalhadores”, conta.
A principal fonte de recurso é proveniente dos convênios firmados com os governos municipais. Ainda conta com as atividades agropecuárias que subsidiam o sustento da entidade.
De acordo com a pastora, o que faz a diferença para a manutenção da entidade é a doação de empresas e pessoas físicas por meio da Lei do Fundo do Idoso, em que é possível deduzir 1% do valor do Imposto de Renda (pessoa jurídica) e 6% (pessoa física). “Buscamos a sustentabilidade financeira por meio de parcerias, doações em dinheiro, produtos de higiene e limpeza, alimentos”, diz.
Em comemoração aos 125 anos da instituição, serão realizadas várias ações. “No dia 19 de novembro, faremos uma festa alusiva à data”, antecipa. Em nível estratégico, a instituição implementou seu plano de comunicação, a partir de projeto idealizado pela professora da Univates e doutora em Comunicação, Elizete Kreutz.
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